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sexta-feira, 8 de abril de 2016

Como desenvolver o espírito crítico?

   Meus caros:

   Há algum tempo em uma palestra em que falava sobre a carreira de Juiz Federal uma estudante me fez uma pergunta bem interessante. Disse ela: "professor, eu queria saber como podemos desenvolver o espírito crítico, já que foi mencionado na palestra ser de grande importância para um Magistrado?"

   Bem, eu  quero esclarecer antes de tudo que não sou propriamente um professor. Seria muito bom se tivesse o dom e a capacidade de ensinar dos grandes mestres que tive na vida. Infelizmente nesse ponto ainda sou um aprendiz. De qualquer modo me esforço para, como um bom aluno, tentar compartilhar com os outros estudantes um pouco daquilo que tenho aprendido.  

   Nesse contexto, em primeiro lugar me parece oportuno explicar porque o espírito crítico é importante para um Juiz Federal ou, a meu ver, em qualquer carreira e mesmo nas atividades em geral. A resposta pode parecer óbvia, mas isso não elimina o fato de que muitas pessoas simplesmente não se preocupam em desenvolver a capacidade de pensar por si mesmas, que no fundo é uma boa forma de definir o que seja espírito crítico. Ora, em um mundo cada vez mais repleto de informações, disponíveis em todo o lugar e a toda hora, a capacidade de analisar de forma criteriosa toda informação recebida é fundamental para que se consiga filtrar o que presta do que não presta e, assim, ter-se uma informação de qualidade e confiável em mãos.

    Pois bem, dito isso, e tentando ainda hoje encontrar uma boa resposta para a pergunta que me foi feita, venho pensando que a prática reflexiva é algo fundamental para desenvolver o chamado espírito crítico. E o que é prática reflexiva? É a atitude constante de pensar sobre o que se está vendo, lendo, assistindo, ouvindo e percebendo em relação ao mundo. Não só em relação ao mundo exterior, mas também, e talvez especialmente, em relação ao nosso mundo interior, que é repleto de sentimentos e pensamentos que muito comumente deixamos passar ou até preferimos deixar passar despercebidos.

   Complexo isso, não? Com toda certeza algo não só complexo, mas também difícil de ser feito. Bem mais fácil simplesmente ir seguindo em frente, sem pensar muito, apenas vivendo e deixando viver. Não que viver e deixar viver seja uma filosofia de vida ruim, quero deixar claro. Tem seus pontos positivos e é algo bem adequado para diversos momentos da vida. Mas em termos de desenvolver o espírito critico, que é o nosso tema, não tem grande eficiência.
 
   Muito bem, então como fazer para, no dia-a-dia, incorporar o hábito da prática reflexiva, do pensar sobre o que acontece ao nosso redor e dentro de nós mesmos? Penso que o ponto inicial fundamental é olharmos para dentro de nós mesmos e estarmos atentos as nossas reações, nossos motivos, nossos sentimentos. Tentar entender e conhecer a si mesmo é um grande ponto de partida. E esse ponto de partida deve ser renovado a cada dia. Depois podemos olhar para fora e tentar entender um pouco as razões e os motivos dos outros. Aceitar a diversidade, compreender que o outro tem medos, preocupações e angústias como nós também temos e que podem explicar o porquê de atitudes tão sem sentido que adotamos e que os outros adotam. Isso nos dará, ao longo do tempo, uma boa visão crítica dos aspectos psicológicos que movem o mundo.

   Para além dos aspectos psicológicos é fundamental, para aprofundar o espírito crítico, analisar e refletir sempre sobre os pressupostos do que é dito. Não necessariamente para concluir que os pressupostos estão errados. Muitas vezes para concluir que a informação é boa, que a ideia faz sentido. E nesse contexto é importante lembrarmos de questionar igualmente nossos próprios pressupostos, que também podem estar equivocados.

  A partir daí, fazendo uma reflexão que considera quem eu sou e o que é importante para mim no mundo, bem como com a compreensão sobre os outros e sobre os pressupostos das informações que eu emito e recebo, é possível chegar a um resultado de conclusões sobre o que realmente para mim tem sentido e o que não tem o mínimo fundamento. E assim eu formo uma opinião crítica sobre um assunto, passando a ter condições de observar aspectos como quais as fontes das informações, quais os interesses envolvidos na questão e onde se inserem nesses interesses cada um dos atores envolvidos (incluindo eu mesmo). É importante observar que quando falo em interesses envolvidos não são só interesses financeiros, mas também interesses em termos de ideologias, de culturas, de valores, de posição social, entre outros, que influenciam o que cada um pensa sobre um determinado assunto.

   Enfim, o questionamento dos pressupostos, a observação dos atores envolvidos no processo, a seleção das fontes de informação e a reflexão sobre todos esses aspectos desenvolve o espírito crítico, ou seja, a capacidade de pensar por si mesmo na formulação de ideias e soluções, tanto no âmbito pessoal como profissional. O resultado será ainda melhor se aliarmos essa postura de desenvolver o espírito crítico com a busca de nossa melhoria pessoal contínua, pois aí nossa capacidade de pensar por nós mesmos será desde logo aproveitada para o aprimoramento de nossas competências.

   Quero concluir tentando deixar as coisas mais claras apresentando um exemplo bem trivial do que estou falando. Outro dia uma amiga da minha esposa contou a ela sobre um super aspirador de pó que usa um revolucionário sistema de filtro de água desenvolvido na Alemanha. Ela disse que o sistema era sensacional e que era incrível como a água ficou preta depois dos testes que o vendedor fez na casa dela. Por tudo o que ela nos descreveu o produto pareceu ser muito bom. O problema, contudo, era o preço. Cerca de R$ 5 mil. Algo para mim bastante caro em termos de um aspirador de pó. Mas a proposta do produto era boa: eliminar ácaros, bactérias e toda a sujeira da casa. Então resolvi pesquisar se não haveria alguma alternativa mais em conta. Para isso fiquei uns dois dias pesquisando na internet e lendo artigos de tudo quanto é tipo sobre sistemas de filtro de pó. Assisti também ao vídeo de demonstração do fabricante e li algumas análises de usuários. Até que me deparei com um artigo científico que tratava sobre os filtros de aspirador de pó. Nesse artigo havia referência a um filtro chamado HEPA, indicando que esse tipo de filtro teria uma eficiência de 99,7% na filtragem do pó. Isso me chamou a atenção, pois o valor era igual ao do sistema de filtragem com água. Comecei a pesquisar sobre filtros HEPA e a partir disso conclui que era um sistema eficiente, de forma que eu poderia ter um bom sistema de filtragem de pó se adquirisse um aspirador de pó com filtro HEPA. Para minha surpresa nem isso precisava fazer, posto que ao checar nosso aspirador de pó descobri que ele era justamente com o sistema de filtro HEPA. Só precisava limpá-lo periodicamente e fazer a substituição do filtro quando estivesse velho. Isso ao custo do aspirador em torno de R$ 350,00. Foi uma boa noticia para mim essa constatação. De qualquer forma, para tirar qualquer dúvida, resolvi fazer um teste igual ao do vídeo do aspirador com o filtro de água. Fiz a limpeza do filtro HEPA e botei meus travesseiros dentro de um saco plástico de embalagem com sistema de vácuo. Aspirei os travesseiros e minha cama. Ao final o reservatório do filtro estava com uma boa quantidade de pó. Joguei esse pó na água e ela ficou escura como no vídeo promocional do aspirado com filtro de água.
   
   Esse é um exemplo muito simples de como aproveitar toda e qualquer situação para desenvolver o espírito crítico. Além de mostrar que isso tem grande relevância prática. Ao buscar uma resposta sobre se aquela solução espetacular para a limpeza da minha casa seria a única solução que atenderia minha necessidade eu tive que questionar o pressuposto de que o filtro de água seria um sistema sem igual de filtragem de pó. Também tive que refletir sobre o interesse do vendedor em mostrar que o produto dele era único para concluir que precisava de mais informações. Mas a existência do interesse do vendedor não queria dizer que a informação dele não era correta. Por isso tive que continuar minha pesquisa e minha análise crítica para buscar elementos técnicos e evidências científicas que confirmassem ou não que aquela era a única solução para uma excelente limpeza de minha casa. E nesse processo todo tive que ter atenção a um detalhe importante: o meu próprio interesse em encontrar uma alternativa mais barata. Isso deve ser sempre considerado. Porque obviamente a vontade de encontrar uma solução tão eficiente quanto e a um custo menor exerceu grande influencia nas pesquisas feitas. Por isso procurei fazer os testes finais empíricos que mostrassem algum nível de acerto de minha conclusão. Digo algum nível porque o teste foi empírico, de forma que ainda hoje não descarto a possibilidade de ao final o sistema do filtro com água ser melhor que o HEPA. Mas dentro de uma solução razoável estou convencido que o sistema do filtro HEPA é suficientemente bom para aquilo que preciso, considerando também uma relação razoável de custo/benefício. Aliás, é interessante notar, diante das minhas conclusões no caso, que a prática reflexiva pode não terminar nunca, já que quando chego a alguma conclusão sobre algo estou apenas definindo novos pressupostos, os quais sempre podem ser questionados. Registro, contudo, que às vezes é bom saber também o momento certo de interromper a prática reflexiva sobre um determinado assunto para simplesmente viver e deixar viver. Por exemplo, sem pensar mais em eficiências de sistemas de aspiração de pó. Ao menos por enquanto.

   É isso, meus caros. Quero fazer um agradecimento especial, ao final dessa postagem, ao Professor José Carlos Zanelli, do Instituto Zanelli, de Florianópolis-SC, que ministrou um curso inovador à distância sob o título de "Prática Reflexiva das Ações Gerenciais", que tive a oportunidade de participar. Ao longo de 13 encontros mensais foi possível ampliar o conhecimento de como a prática reflexiva, que já me acompanhava desde antes do curso, pode e deve ser aplicada de diversas maneiras na melhoria dos processos gerenciais e produtivos. Deixo meu agradecimento porque certamente muitas ideias dessa postagem vieram das reflexões feitas durante o curso.  

Um grande abraço,

Emmerson Gazda
artedaexcelencia.blogspot.com

Um comentário:

  1. Caro amigo Emmerson,

    Mais uma postagem que nos ajuda a evoluir como seres humanos em busca da excelência.

    Parabéns!!!

    Abs,

    Márcio

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